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Semiologia da Parede Abdominal: Seu Valor no Planejamento das Abdominoplastias
RESUMO:
Este trabalho tem como objetivo principal determinar a integridade ou as alterações da parede abdominal através da semiologia metodizada e sistematizada, para estabelecer relação direta e objetiva com as técnicas e táticas cirúrgicas para cada caso individualmente. Ressalta a importância de se avaliar de modo padronizado e constante a região abdominal dentro de todo o contexto corporal, possibilitando ao cirurgião um raciocínio lógico e claro, levando-o à escolha segura da melhor conduta cirúrgica a seguir.
Autores: Carlos Alberto JaimovichI, Francesco MazzaroneII, Jairo Fernando Navarro ParraIII, Ivo PitanguyIV
INTRODUÇÃO
O abdome ocupa uma posição central na imagem anatômica do corpo humano, destacando-se assim sua importância na definição do contorno corporal e do padrão estético do indivíduo.
A forma da parede abdominal é dada pela estrutura esquelética, pela quantidade e distribuição da gordura, aspecto e situação da pele, integridade do sistema músculo aponeurótico e o conteúdo intracavitário. Cada um desses componentes é uma variável independente dentro do diagnóstico da deformidade da parede abdominal que determinará o tipo de tratamento a ser indicado para o paciente.
Sheldon(1) classifica a forma humana em termos de somatotipos: mesomórfico, ectomórfico e endomórfico, os quais representam um hábito corporal diferente. Os indivíduos mesomórficos são aqueles que têm uma aparência quadrada, com predomínio de músculos, osso e tecido conectivo. O ectomórfico se caracteriza pela longitude e fragilidade, com mínimo de desenvolvimento dos componentes muscular e gorduroso. Os endomórficos apresentam excesso de gordura, abdome proeminente e extremidades curtas. Naturalmente existe alto grau de variabilidade dentro dos três tipos, e a grande maioria da população representa um termo médio, sendo os extremos endomórficos e ectomórficos pouco comuns.
Lewis(2,3,4,5) descreve a parede abdominal de três formas diferentes: pendular, globosa, e flácida. O abdome pendular apresenta acúmulo de gordura no abdome inferior e ao redor do umbigo, podendo a pele dobrar-se sobre o púbis devido ao excesso de peso (Figs. 1a – 1c). O abdome globoso é arredondado, com distensão generalizada, havendo uma quantidade variável de gordura, com ou sem flacidez do sistema músculo-aponeurótico (Figs. 2a – 2c). O abdome flácido apresenta pele redundante, lassa e frouxa, encontrando-se estrias com freqüência (Figs. 3a – 3c).
Figs. 1a-1c – Abdome Pendular.
Pitanguy(6) divide as deformidades abdominais em duas categorias: alterações estéticas e funcionais. Os defeitos estéticos são aqueles que modificam o contorno corporal e devem-se principalmente à flacidez da parede abdominal, acúmulo de gordura e enfraquecimento músculo-aponeurótico. Os defeitos como as hérnias comprometem o aspecto funcional da parede abdominal, que já não é mais capaz de conter as vísceras em sua cavidade. Podem ocorrer deiscências de suturas, durante as primeiras fases do processo cicatricial (do 1º ao 21º dia pós-operatório), devidas a hematomas, infecções, falhas na produção do tecido colágeno e aumento da pressão intracavitária, provocando ruptura da linha incisional e determinando uma solução de continuidade, o que leva à instalação de uma hérnia incisional. Essas deiscências são também passíveis de se instalar mais tardiamente, mesmo após o 1º mês do pós-operatório, pelas mesmas razões, sendo mais comuns as ligadas à perda da resistência cicatricial frente a um súbito e agudo aumento da pressão intracavitária (esforços indevidos no pós-operatório). Outras seqüelas, como as cicatrizes inestéticas decorrentes de posicionamento inadequado de incisões ou caso elas infeccionem, conferem um aspecto desagradável e deformante ao abdome. Eventuais lesões de nervos periféricos podem causar atrofia de grupos musculares, resultando em áreas de enfraquecimento da parede abdominal(6).
A cirurgia plástica abdominal tem por finalidade a correção das alterações da parede abdominal, desde as que afetam a cobertura tegumentar (pele e tecido celular frouxo subcutâneo) até as que afetam a estrutura músculo-aponeurótica, procurando atingir os padrões compatíveis com o que se considera “normal” para o contorno corporal(7-11).
Essas alterações podem ser resumidas em: cutâneas (redundâncias, estrias, cicatrizes, flacidez e retrações), tecido celular frouxo subcutâneo (lipodistrofias) e sistema músculo-aponeurótico (diástases, hérnias, eventrações e abaulamento).
O exame físico, baseado numa avaliação semiológica criteriosa, é fundamental para que se possam colher todos os dados importantes que possibilitarão estabelecer uma classificação didática e de fácil compreensão(5,6,12-14). Essa classificação permite estabelecer com grande margem de acerto o procedimento cirúrgico mais adequado a ser adotado para cada caso, proporcionando um tratamento com melhor resultado estético e funcional. Este é o escopo do presente trabalho: estabelecer uma relação segura entre uma semiologia metodizada, sistematizada e padronizada, ajustando os dados encontrados à classificação proposta pelo Prof. Ivo Pitanguy, para finalmente indicar as melhores condutas cirúrgicas destinadas à correção das alterações do abdome de modo específico e global.
ANATOMIA
Considerações Gerais
A parede abdominal anterior é composta de pele, tecido conjuntivo frouxo subcutâneo (tecido celular subcutâneo) e um sistema músculo-fáscio-aponeurótico. Mediante a remoção e/ou a reposição dessas estruturas, o cirurgião plástico tenta esculpir o tronco. Por conseguinte, o conhecimento da anatomia da parede abdominal anterior se reveste de crucial importância.
A parede abdominal anterior é uma área poligonal em forma de diamante, limitada acima pelo apêndice xifóide e as margens costais, lateralmente pelos músculos oblíquos e a crista ilíaca e abaixo pelos ligamentos inguinais externos(5).
À ectoscopia, apresenta diversas “saliências e depressões”, que representam áreas de sombra e de reflexo de luz que, em seu conjunto, propiciam um aspecto harmonioso do relevo abdominal e conferem a aparência de beleza a esta unidade estética corporal(6).
As saliências naturais são produzidas pelas bordas costais, os músculos retos abdominais, as cristas ilíacas, o púbis e parte da região suprapúbica. As depressões são representadas pela linha média supra-umbilical, o umbigo, a pequena área infra-umbilical média, as fossas ilíacas, as arcadas semilunares (áreas de inserção dos músculos retos e oblíquos) e as inserções transversas supra-umbilicais dos músculos retos(5,12,15,16).
A faixa circunferencial compreendida entre a base do tórax e o ápice da região pélvica (cristas ilíacas) é conhecida na terminologia corrente como “cintura”, sendo de fundamental importância para a configuração da silhueta do corpo humano, sobretudo entre as mulheres. Sua altura é variável de acordo com o biótipo (normolíneo, brevilíneo, longilíneo). Desse modo, é o esqueleto quem determina o contorno corporal com mais ou menos “cintura”, de acordo com o biótipo. Assim, um biótipo longilíneo favorece uma cintura com maior definição, pois permite uma linha suave e alongada com concavidade bilateral, possibilitando um contorno mais adelgaçado. O grau de amplitude da pélvis contribui também para a harmonia da forma dessa região, sendo mais ampla a pélvis feminina em relação ao tórax.
Na vida intra-uterina, é através do umbigo que se faz a conexão entre o feto e mãe . Depois do nascimento, representa a cicatriz secundária à secção e queda do cordão. Nos últimos anos, o umbigo tem adquirido cada vez mais importância sob o ponto de vista estético, social e sexual. A moda tem dado a ele maior destaque, expondo-o com grande naturalidade. Antigas incisões sobre a parede abdominal chegaram a permitir sua extirpação. As técnicas atuais continuam conservando-o e respeitando-o, tentando inclusive aprimorar o seu aspecto(17-21).
Pode-se dizer que a cicatriz umbilical é a única cicatriz do corpo que o indivíduo faz questão de possuir e reclama quando não está presente ou é eliminada. A sua ausência produz uma severa dismorfia, levando ao comprometimento da própria imagem corporal, com reflexos psicológicos que não podem ser desconsiderados.
O estudo histológico da zona da implantação do umbigo na parede abdominal comprovou a ausência de vasos permeáveis pelos quais pudessem nutrir-se a área umbilical ou zonas vizinhas da parede abdominal, além do tecido correspondente ao anel fibroso(16). Essa nutrição é garantida por mínimos vasos e/ou por embebição através das estruturas peritoneais, o que possibilita a preservação da cicatriz umbilical mesmo nos casos em que ela é “esqueletizada” como, por exemplo, na cirurgia do retalho miocutâneo do músculo reto abdominal, situação em que o pedículo umbilical fica literalmente desnudado, preso apenas por sua base à aponeurose posterior e revestido internamente pelos folhetos peritoneais.
A cicatriz umbilical tem uma forma arredondada, deprimida e mais profunda na parte superior. A sua parte externa e superior está limitada pelo rodete cutâneo. Por esse motivo, as bordas são elevadas, sendo a borda inferior mais plana, formando suave transição para a pele da parede abdominal. No fundo da cavidade, em sua zona média, se aprecia uma elevação (mamilo) cujo centro corresponde à cicatriz do cordão umbilical. Ao redor do mamilo existe uma depressão circular denominada sulco umbilical que separa o mamilo do rodete cutâneo(5,20,22,23)(Fig. 4).
Fig. 4 – Forma da Cicatriz Umbilical.
A fixação da cicatriz umbilical na parede abdominal permite a delimitação clara do abdome em dois segmentos: um abdome superior e outro, inferior. Tanto um como outro se acentuam pela depressão ocasionada pela zona umbilical e, na maioria das mulheres jovens, o abdome inferior é levemente mais proeminente e elevado.
Segundo Goss(22), a cicatriz umbilical está ao nível das vértebras L3 e L4. Dubuo(5,24) estudou a situação do umbigo em 100 pessoas não obesas, escolhidas aleatoriamente, em decúbito supino e concluiu que, em 96% dos casos, ela coincide com a linha horizontal imaginária que une as cristas ilíacas.
A região pubiana representa o vértice inferior do polígono abdominal compreendido entre as regiões inguinocrurais e a linha de Dumm. Conhecida como Monte de Vênus, tem importância na harmonia do conjunto abdominal, sendo imprescindível que se leve em conta seu formato, volume, implantação pilosa e sua altura, determinada pela distância entre a fúrcula vulvar e seu limite com o abdome inferior (linha de Dumm). Essa distância, segundo os parâmetros vigentes, corresponde em média a cerca de 6 cm, que é a distância ideal mínima que deve existir após uma abdominoplastia clássica evitando sua distorção.
Pele
A pele da região abdominal tem cerca de 2-4 mm de espessura, contém os anexos habituais de outras regiões do corpo (pêlos, glândulas sudoríparas e glândulas sebáceas), sendo uma das áreas em que sua grande elasticidade permite significativas alterações do volume do abdome (gravidez, obesidade, etc.).
Sua inserção na fáscia é frágil, exceto na área da cicatriz umbilical, onde guarda conexão mais forte com as estruturas subjacentes, indo ao encontro da aponeurose dos músculos retos e da própria linha alba.
Observa-se que os pêlos têm distribuição oblíqua e convergente de cima para baixo em direção à linha média, onde tendem a se distribuir longitudinalmente desde o apêndice xifóide até a região pubiana.
Na região pubiana, a distribuição pilosa tende a ser mais baixa e mais triangular nas mulheres. Nos homens, ela continua com a própria região abdominal, tendo aí distribuição mais difusa e menos poligonal.
O correto posicionamento do retalho durante as abdominoplastias evita que o eixo central seja deslocado lateralmente, o que poderia provocar des-vios da implantação pilosa, provocando aspecto desgracioso ao abdome.
A linha média deve corresponder exatamente à projeção da linha alba, que divide a parede abdominal em duas metades laterais rigorosamente simétricas.
Tecido Conjuntivo Frouxo Subcutâneo (Tecido Celular Subcutâneo)
Markman e Barton(25) descreveram o tecido subcutâneo do tronco e da parte proximal das extremidades inferiores e confirmaram os dados de Gray e cols.(23), com relação à existência de uma camada de tecido adiposo superficial e outra, profunda. A capa superficial está dividia em compartimentos formados por septos fibrosos, ao contrário da camada profunda que está distribuída ao acaso e contém pouca septação. O padrão característico dos depósitos de gordura no ser humano varia com o sexo, a idade e a raça. Os dois padrões principais são o ginecóide (feminino) e o andróide (masculino). As mulheres tendem a ter um percentual maior de tecido gorduroso do que os homens, tipicamente aquelas que possuem acúmulo de gordura na parte inferior do tronco, quadris, coxas e região glútea. As áreas de acúmulo de gordura no homem se traduzem em aumento da circunferência abdominal e do tórax, assim como da região sub-mentoniana. As mudanças que ocorrem com a idade são basicamente produzidas por aumento do volume do tecido adiposo do tronco. O tecido adiposo das extremidades diminui com a idade, sendo transferido aos espaços intramuscular e intermuscular(26,27).
Os indivíduos de raça negra tendem a mostrar um maior depósito de gordura na região glútea, em comparação com os da raça oriental e caucásica. Esse fator é magnificado pela pronunciada lordose lombar, também observada em muitos desses pacientes(21,27).
Fáscia Superficial (Fáscia de Camper-Scarpa)
A fáscia superficial tem um papel importante na manutenção da estética abdominal. Sua porção inferior (infra-umbilical) é mais nítida, principalmente na região das fossas ilíacas onde pode manifestar-se como uma verdadeira fáscia, mais fina que a muscular. Também está presente nas linhas semilunares onde, entretanto, é pouco visível, bem como na sua projeção púbica. Apesar de ser menos nítida do que nas áreas restantes, essa fáscia pode ser sempre diferenciada. Pode-se concluir que, nas áreas onde se observa maior deslizamento da pele e do tecido subcutâneo em relação à aponeurose dos músculos, a fáscia superficial torna-se mais densa e fica mais bem evidenciada. Nas pacientes que se submetem a uma laparotomia com incisão de Pffannestiel, por exemplo, se a fáscia não for reestruturada, pode-se produzir uma retração da mesma em sentido cefálico, causando uma depressão suprapúbica transversal que pode representar um efeito antiestético indesejável(12). Este dado torna evidente a necessidade de se proceder à sutura por planos, de modo adequado, reforçando a continuidade da própria fáscia, principalmente nas abdominoplastias em que se deseja o melhor efeito estético possível.
Vascularização
Dois plexos arteriais primários são responsáveis pela irrigação sanguínea da parede abdominal: um sistema superficial subdérmico e um sistema profundo músculo-aponeurótico. Numerosos vasos formam conexões anastomóticas entre os dois planos, especialmente na região periumbilical.
No plano profundo músculo-aponeurótico, os vasos epigástricos superiores e inferiores correm longitudinalmente dentro do músculo reto anterior e formam uma rede capilar no abdome médio. No abdome superior também estão os ramos xifóideos que correm paralelos aos vasos epigástricos superiores. O plexo superficial subdérmico se origina fundamentalmente nos vasos perfurantes localizados na região periumbilical. Também existem ramos provenientes das artérias epigástricas inferiores superficiais, circunflexa ilíaca e o ramo ascendente da pudenda externa que contribui na formação desse sistema(5,16,23).
Hunger(28) descreve três zonas vasculares da parede abdominal (Fig. 5). A zona I, que ocupa a parte média do abdome, é vascularizada pelo sistema epigástrico profundo. A zona II, no hipogástrio, é perfundida pela artéria ilíaca externa. A zona III, no hipocôndrio, flanco e fossa ilíaca, é irrigada pelas artérias diafragmáticas, intercostais e lombares, formando uma rede vascular primária, principal encarregada da nutrição e do retorno venoso do retalho após uma abdominoplastia.
Fig. 5 – Vascularização da parede anterior do abdome descrita por Hunger.
O retorno venoso depende do sistema toracoepisgástrico, que se situa no plano subcutâneo e faz a drenagem para os vasos axilares e femorais e para as veias do sistema epigástrico profundo.
A Drenagem Linfática é constituída por duas redes: uma superficial e outra profunda, cada uma das quais vai fazer a drenagem para o sistema coletor ganglionar linfático axilar e inguinal (Fig. 6). Os gânglios linfáticos inguinais constituem o centro coletor de todas as vias linfáticas da perna, genitais externos, região perineal e glútea e zonas do abdome e do tronco situadas abaixo do umbigo. Dividem-se em gânglios linfáticos subinguinais superficiais (situados sobre a fáscia) e profundos (localizados abaixo da fáscia). Os gânglios linfáticos axilares constituem o centro de numerosas vias linfáticas que procedem do braço, ombro, parede torácica e abdominal alta e glândulas mamárias. Dividem-se em superficiais, braquiais, peitorais e subescapulares e profundos ou infraclaviculares(16,23).
Fig. 6 – Inervação e drenagem linfática da parede abdominal.
A drenagem linfática necessariamente se dirige aos gânglios axilares no pós-operatório imediato de abdominoplastia devido à secção dos canais linfáticos que drenam os gânglios inguinais. Os sistemas tendem a se refazer com o passar do tempo.
Inervação
A inervação da parede abdominal procede dos nervos intercostais D5 a D12 e dos nervos abdominocrural maior e menor procedentes de L1(16,23)(Fig. 6).
A distribuição dos nervos da parede abdominal muda após a abdominoplastia(16,23,29). Os dermatomas D5-D12 são deslocados para baixo, em sentido caudal. A maioria dos dermatomas inferiores (D10-D11-D12) são ressecados com a pele na abdominoplastia convencional. Os dermatomas superiores são ampliados após a cirurgia de maneira que D9 situe-se imediatamente acima da incisão.
Sistema Músculo-Aponeurótico(16,23)
A parede abdominal é formada por três músculos largos de cada lado: oblíquo externo, oblíquo interno e transverso, reforçados na linha média pelos músculos retos e pelo músculo piramidal. Esses músculos são indispensáveis para manter a postura, a locomoção e a função intestinal e constituem o elemento primário para estabelecer a tonicidade da parede abdominal.
Fisiopatologia das Alterações da Parede Abdominal
Os múltiplos fatores que causam enfermidades e processos que alteram o balanço fisiológico do organismo podem também alterar a forma do abdome até o ponto em que este se torna desagradável para o paciente e causa, inclusive, dificuldades para a higiene corporal normal. A melhor forma de estudar esses múltiplos fatores é considerar cada componente da parede abdominal em separado.
Pele
A pele da parede abdominal pode se alterar por traumatismo, gravidez, obesidade, perda de peso ou processo normal de envelhecimento. Esses fatores podem produzir mudanças temporárias ou permanentes na pele. A natureza elástica da pele abdominal é importante desde o ponto de vista funcional, como na gravidez, e este fator é uma vantagem que se deve ter em conta durante a abdominoplastia. No entanto, a elasticidade da pele não é ilimitada. Se tracionada em excesso, pode dar como resultado a formação de estrias (ruptura e separação do colágeno dérmico que é substituído por tecido cicatricial). Esse fenômeno pode ocorrer em toda a extensão do abdome, sendo mais freqüente no hipogástrio, abaixo do umbigo. A flacidez e a redundância, freqüentes após a gravidez, podem ser reversíveis até certo ponto; se não reverterem no transcurso dos seis meses seguintes ao parto, pode-se considerar que serão uma seqüela permanente(5,6,9,12-14,30-32).
A flacidez, a redundância e a formação de estrias podem também originar-se de mudanças drásticas de peso, como ocorre nos pacientes com obesidade mórbida. A parede abdominal pode ter recebido feridas de origem traumática ou cirúrgica, com cicatrizes visíveis secundárias, que podem ser tratadas ou retiradas durante a abdominoplastia(5,6,12,30-33).
A maceração, o intertrigo e as dermatites, presentes em alguns pacientes e secundárias à umidade e ao atrito entre as dobras cutâneas por redundância dermoadiposa, identificam-se sobretudo em pacientes com abdome em avental.
Tecido Conjuntivo Frouxo Subcutâneo (Tecido celular subcutâneo)
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e a Sociedade Internacional de Endocrinologia e Diabetes definem a obesidade como o aumento do peso corporal de 15-20% acima do peso ideal para os homens e de 25-30% acima do peso ideal para as mulheres, à custa do tecido adiposo.
Na obesidade hipertrófica existe um incremento nato na capacidade de armazenamento de gordura nos adipócitos, para uma mesma população celular (as células aumentam de volume), em comparação com a obesidade hiperplásica em que existe uma reprodução de adipócitos novos que se multiplicam para reacomodar o excesso de armazenamento de lipídeos. Isso ocorre quando a gordura total corporal é maior do que 40 kg(5,6,25,27,34).
A obesidade pode causar hiperlordose, com o conseqüente estiramento dos músculos retos anteriores e diástase, ao qual se soma o acúmulo de gordura no abdome. Depois de perdas de peso, é freqüente encontrar nesses pacientes mudanças atróficas, como flacidez e redundâncias da pele e diástase dos músculos previamente estirados(33,34).
Vale lembrar que a obesidade é, em princípio, contra-indicação para cirurgias plásticas. Somente em condições especialíssimas são feitas as cirurgias plásticas chamadas “higiênicas” em pacientes com esse tipo de alterações metabólica e corporal. Nesses casos, as cirurgias visam a remoção dos grandes excessos dermoadiposos, sem qualquer descolamento, a fim de reduzir os volumes de tecidos redundantes, procurando oferecer mais conforto aos pacientes.
Músculos e Aponeuroses
A estrutura músculo-fáscio-aponeurótica da parede abdominal forma uma espécie de cinturão constritivo que mantém os órgãos intra-abdominais em seu lugar e ajuda a estabelecer uma função intestinal normal. Esses músculos também intervêm nos movimentos de flexão do tronco e nos processos fisiológicos que requerem o aumento da pressão intra-abdominal(6,12,13,14,31,32,35,36).
Existem certas área de debilidade normal da parede abdominal: linha alba, linha semilunar, anel umbilical e região inguinal. Devido a traumatismos (cirúrgicos ou não) e ao “estresse” (situação de tensão tecidual como na gravidez ou distensão intracavitária) podem produzir-se diástases músculo-aponeuróticas (quando são afetados os músculos retos abdominais, produz-se o aumento da globosidade; quando é afetado o músculo oblíquo externo, resulta em aumento do perímetro da circunferência conhecida como “cintura”) e/ou herniações do conteúdo abdominal(5,15,16,23,37).
PACIENTES E MÉTODOS
Para se obter uma avaliação semiológica padronizada, com o objetivo de determinar a integridade ou as alterações da parede abdominal, realizou-se um estudo seqüencial em um grupo de 30 pacientes, não selecionados, em série, por um período de 8 meses (março a novembro de 1996), na 38a Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, Serviço do Prof. Ivo Pitanguy.
Elaborou-se um protocolo básico que foi adotado em todo o grupo em estudo (Fig. 7).
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RESULTADOS
Idade
A faixa etária variou de 34 a 63 anos; 43,3% (13 pacientes) corresponderam à quinta década da vida; 26,7% (8 pacientes) corresponderam à quarta década; 20,0% (6 pacientes) corresponderam à sexta década; 10,0% (3 pacientes) corresponderam à sétima década. A quinta década apresentou o maior número de pacientes, o que corresponde às referências na literatura sobre o assunto (Tabela I).
Sexo
Todos os pacientes foram do sexo feminino.
Tipo Constitucional
Foram identificados três grupos de pacientes: brevilíneo, normolíneo e longilíneo. Determinamos como brevilíneo o tipo morfológico caracterizado pelos membros curtos e tronco largo; longilíneo, o tipo morfológico caracterizado pela prevalência dos membros sobre o tronco; e normolíneo, aquele com forma intermediária.
O tipo constitucional predominante foi o brevilíneo com 20 pacientes (66,7%), seguido do normolíneo com 9 pacientes (30%) e do longilíneo com 1 paciente (3,3%)(Tabela II) .
Causa Determinante da Alteração da Parede Abdominal
Foi perguntado a cada paciente qual tinha sido a causa determinante das alterações estruturais em sua parede abdominal: 13 pacientes (43,3%) relataram ser uma condição secundária à gravidez, resultando como alteração a lipodistrofia do hipogástrio, estrias hipogástricas e periumbilicais e flacidez da parede abdominal; 10 pacientes (33,3%) manifestaram como causa a obesidade que começou na adolescência; 5 pacientes (16,7%) relataram o emagrecimento como causador da flacidez deformante da parede abdominal e 2 pacientes (6,7%) eram portadoras de hérnia incisional secundária a laparotomias. Não foram relatadas outras formas de alteração da parede abdominal (Tabela III).
AVALIAÇÃO POSTURAL
Posição Ortostática
Estando a paciente sem suas vestes e com sua autorização prévia, realizamos uma visão de frente e outra de perfil que nos permitisse avaliar: forma da parede abdominal, posição da cicatriz umbilical em relação à linha intercristas ilíacas, medição comparativa da circunferência corporal, avaliação cutânea e a visão em conjunto da região mamária, abdominal e trocantérica (Figs. 8a e 8b).
Figs. 8a e 8b – Posição ortostática: visão frontal(a) e visão de perfil(b).
Formas da Parede Abdominal
Com base na classificação de Lewis(3, 4), descreve-se a forma da parede abdominal classificando-a em três tipos: pendular, globosa e flácida. Predominou a forma globosa, caracterizada por ser um abdome redondo, protruso com distensão generalizada, lipodistrofia supra e infra-umbilical e lassidão do sistema músculo-aponeurótico (ou sem este), correspondendo a 22 pacientes (73,3%), seguido do abdome pendular, com 6 pacientes (20,0%), e do abdome flácido, com 2 pacientes (6,7%) (Tabela IV).
Posição da Cicatriz Umbilical em Relação à Linha Intercristas Ilíacas
Tomando-se como referência as cristas ilíacas, a avaliação foi feita na posição ortostática traçando uma linha horizontal imaginária que unia as cristas ilíacas. Em 24 pacientes (80%) a cicatriz umbilical era visualmente bem posicionada, coincidindo com a linha traçada entre as cristas ilíacas; em 6 pacientes (20%) a cicatriz umbilical era visualmente posicionada no abdome superior (em 2 casos essa linha passava pela metade inferior do umbigo, e em 4 casos ela passava por baixo da cicatriz umbilical).
Não se encontrou no grupo estudado nenhum caso em que a cicatriz umbilical estivesse abaixo da linha interilíaca, mesmo nos casos mais severos de abdome em avental ou pendular, em que acreditávamos que a parte externa da cicatriz umbilical estivesse deslocada para baixo, devido ao peso do retalho abdominal (Tabela V).
Medição Comparativa da Circunferência Corporal: (Dorsoabdominal)
Foram feitas medidas padronizadas, no pré-operatório e no 3º mês de pós-operatório (intervalo mínimo mas suficiente para a acomodação do retalho, regressão do edema, ajuste postural das pacientes, etc.). Evidenciou-se uma diminuição da circunferência ao nível do apêndice xifóide e na região umbilical variável de 4 a 8%, relacionada especialmente com a abdominoplastia clássica e a lipoaspiração dos flancos. A medição ao nível suprapúbico se manteve estável, não se observando modificações na circunferência sacropúbica. Vale lembrar que, mesmo nos abdomes em avental, o volume causado pelo retalho redundante sobre o púbis não foi incluído na medição por não fazer parte da estrutura pubiana .
Avaliação Cutânea
A avaliação do estado da pele na região abdominal mostrou estrias localizadas na região periumbilical e hipogástrica na maioria das pacientes (29), cicatrizes inestéticas secundárias a procedimentos cirúrgicos, como laparotomia, colecistectomia e apen-dicectomia, em 6 pacientes. Em 4 pacientes com abdome pendular evidenciou-se lesão eritematosa, úmida, secundária à maceração pelo atrito da pele (intertrigo), que respondeu bem ao tratamento tópico com cremes antiinflamatórios e bactericidas no pré-operatório.
Visão em conjunto da região mamária abdominal e trocantérica
Essa avaliação se destinou a verificar a integração entre o abdome, as mamas e a região trocantérica, permitindo-nos estabelecer a necessidade ou não de procedimentos cirúrgicos associados, visando à melhor harmonização do conjunto corporal, como, por exemplo, lipoaspiração de quadris ou de flancos, mamoplastia, etc. Embora não estejam previstas cirurgias associadas simultâneas na rotina do Serviço, essa análise permite ao cirurgião uma visão prospectiva dos resultados e a previsão de eventuais cirurgias a serem realizadas em outros tempos cirúrgicos.
Posição Sentada
O abdome foi dividido em dois segmentos:
- Mesoepigástrico - estende-se do apêndice xifóide e rebordo costal até uma linha horizontal que passa ao nível da cicatriz umbilical.
- Meso-hipogástrico - estende-se do rebordo do púbis até a linha horizontal que passa ao nível da cicatriz umbilical.Observamos, nessa posição, principalmente o grau de lipodistrofia e flacidez da parede abdominal manifestado por uma ou mais dobras cutâneas na visão de frente e perfil (Figs. 10). Realizamos a seguir a manobra de pinçamento manual do retalho, que é feita no nível do segmento mesoepigástrico, verificando o grau de distensibilidade da área. É a região mesoepigástrica quem vai proporcionar a cobertura da área cruenta meso-hipogástrica após a ressecção dos tecidos redundantes. Nessa manobra estuda-se o seu comprimento, sua elasticidade e suas aderências a estruturas subjacentes (Figs. 11a e 11b).
Figs. 10 Avaliação de perfil na posição sentada, notando-se a dobra cutânea mesogástrica, as redundâncias e a linha de Dumm.
Figs. 11a e 11b – Manobra de pinçamento manual para avaliação da região mesoepigástrica, em duas pacientes distintas.
A visão da região meso-hipogástrica na posição sentada nos dá apenas uma idéia da quantidade de tecidos redundantes, não sendo essa uma avaliação precisa para o cálculo do volume e extensão dos tecidos a serem ressecados no baixo-ventre.
É também nessa posição que se pode determinar a linha de Dumm, fundamental para a previsão do posicionamento ideal da cicatriz hipogástrica final pós-abdominoplastia (Figs. 10a e 10b).
Posição em Decúbito Dorsal
Visa à avaliação do sistema músculo-aponeurótico, localizando as áreas de fraqueza ou fragilidade que poderão ser encontradas ao nível da linha alba, região umbilical, linha semilunar, regiões inguinais e áreas cicatriciais. Com a participação ativa da paciente foram realizadas manobras de Valsalva (que tendem a aumentar a pressão intra-abdominal), tais como: flexão forçada do tórax e flexão forçada dos membros inferiores em extensão (Figs. 12 e 13).
Fig. 12 – Manobra de flexão forçada do tronco, com resistência na região frontal.
Fig. 13 – Manobra de flexão forçada dos membros inferiores, com resistência na região dos joelhos.
Sistema Músculo-Aponeurótico
A diástase dos músculos retos abdominais anteriores foi evidenciada em 22 pacientes, correspondendo a 73,3%. Sua localização durante o exame físico foi supra-umbilical, também evidenciada na manobra de extensão forçada do tórax em posição ortostática (Figs. 14a e 14b). Em 1 paciente (3,3%) se evidenciou hérnia umbilical, 2 pacientes (6,7%) apresentaram hérnia incisional na linha média supra e infra-umbilical secundária a laparotomias e foram facilmente evidenciadas no exame físico. Em 5 pacientes (16,7%) não se evidenciou alteração do sistema músculo-aponeurótico abdominal durante o exame físico (Tabela VI).
Figs. 14a e 14b – Manobra de extensão forçada do tórax em posição ortostática, procurando evidenciar o abaulamento na linha média decorrente de diástase dos músculos retos abdominais anteriores. Duas
pacientes diferentes.
No ato operatório entretanto foi feita a correção da diástase dos músculos retos abdominais, tanto no nível supra como infra-umbilical, em todas as pacientes. Depreende-se daí que, durante o exame físico, a diástase meso-hipogástrica já estava presente mas não pôde ser detectada, pois o volume meso-hipogástrico de tecidos redundantes foi de tal monta que mascarou a evidenciação dos sinais típicos de uma diástase muscular, principalmente o abaulamento vertical na linha média durante as manobras de Valsalva.
Complementação do Estudo do Retalho Abdominal
Estando a paciente em decúbito dorsal, solicita-se que ela realize a flexão dos joelhos apoiando os pés no leito, em relaxamento muscular abdominal total. Nesse momento realizamos o pinçamento do retalho ao nível do segmento meso-hipogástrico, tracionando-o longitudinalmente em direção ao púbis. Dessa forma conheceremos o comprimento do retalho mesoepigástrico, sua elasticidade e distensibilidade, a altura estimada de sua secção, o melhor tratamento a ser adotado para a cicatriz umbilical, o tipo de cicatriz resultante. Do mesmo modo, tem-se uma idéia mais precisa da extensão e do volume de tecido meso-hipogástrico a ser ressecado (Fig. 15).
Fig. 15 – Paciente em decúbito dorsal, membros inferiores fletidos, musculatura abdominal relaxada. Procede-se a manobra de pinçamento dos tecidos do mesoepigástrico e sua tração longitudinal no sentido caudal.
Classificação de Pitanguy(6)
Tipo I: Lipodistrofia abdominal sem flacidez de pele; ausência de diástase ou hérnia; cicatriz umbilical em posição anatômica normal.
Tipo II: Lipodistrofia abdominal infra-umbilical com flacidez cutânea discreta, presença ou ausência de diástase; cicatriz umbilical em posição anatômica normal.
Tipo III: Lipodistrofia abdominal generalizada, com flacidez cutânea moderada; presença ou ausência de diástase.
Tipo IIIA: Cicatriz umbilical em posição anatômica normal.
Tipo IIIB: Cicatriz umbilical em posição anatômica excessivamente elevada.
Tipo IV: Lipodistrofia abdominal acompanhada de acentuada flacidez cutânea. Presença de diástase muscular ou eventrações, com ou sem cicatriz associada; cicatriz umbilical em posição anatômica normal.
Tipo V: Acentuada flacidez cutânea abdominal, com ou sem lipodistrofia; presença de cicatriz na linha média do abdome. Cicatriz umbilical em posição anatômica normal ou alterada.
Tipo 0: Acentuada lipodistrofia e flacidez abdominais, não havendo condições de correção cirúrgica por problemas clínicos. Os pacientes deste grupo devem submeter-se a uma rigorosa terapia clínica para perda de peso, muitas vezes necessitando de um tratamento multidisciplinar (endocrinologista, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, etc.).
Estudo dos Dados Prevalentes na Metodização Semiológica
Neste grupo de 30 pacientes, os dados prevalentes, ou seja, que tiveram maior incidência percentual, foram: Pacientes na quinta década da vida (43,3%), do sexo feminino (100%), com tipo constitucional brevilíneo (66,7%), que relataram a gravidez como principal causa determinante da alteração da parede abdominal (43,3%), com forma globosa (73,3%), com cicatriz umbilical ao nível da linha intercristas ilíacas (80%), com retalho mesoepigástrico suficiente para cobrir a área cruenta meso-hipogástrica após sua ressecção (66,7%), com diástase dos músculos retos abdominais anteriores como principal alteração da parede abdominal (73,3%).
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
Todos os pacientes foram classificados semiologicamente, tendo sido realizado o seu programa cirúrgico pré-operatório pelo Professor e o Residente responsáveis. Os procedimentos cirúrgicos foram realizados por médicos residentes no terceiro ano de formação do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica do Serviço do Prof. Ivo Pitanguy, exceto em um caso de hérnia incisional devido ao volume e conteúdo do saco herniário, no qual o instrutor responsável comandou a cirurgia.
As técnicas cirúrgicas empregadas foram:
Lipoaspiração Isolada(6,29,38,39)
A lipoaspiração simples da região abdominal é indicada para pacientes portadores de deformidades do tipo I da Classificação de Pitanguy. Na grande maioria são pacientes jovens e com lipodistrofia localizada ou generalizada no abdome, com pele de boa elasticidade e turgor, sem flacidez músculo-aponeurótica. Uma paciente de nosso estudo foi submetida a este procedimento (3,3%)
Miniabdominoplastias(3,6,40-42)
Procedimento indicado para pacientes que possuem enfraquecimento músculo-aponeurótico na linha média do abdome, lipodistrofia infra-umbilical e moderada flacidez cutânea (tipos II e III da Classificação de Pitanguy).
Três pacientes (10%) foram submetidas a este procedimento. Nas outras seis pacientes (20%), para as quais estaria teoricamente indicada a miniabdominoplastia, foi realizada a abdomino-plastia clássica segundo a Técnica de Pitanguy, tendo em vista ser um procedimento mais seguro e com menos complicações potenciais como as que são relatadas e observadas nas chamadas miniabdominoplastias (alto índice de seromas, sofrimento e necroses do retalho abdominal, retração cicatricial e redundâncias cutâneas). Nesses casos, a cicatriz final resultante foi um “T” invertido, com o componente vertical mediano de mínimas proporções.
Abdominoplastia pela Técnica de Pitanguy(6,7,11,13,30,31,43,44)
Indica-se esta técnica para os pacientes com moderada ou acentuada flacidez cutânea associada a lipodistrofia localizada ou generalizada, com ou sem eventrações ou hérnias da parede abdominal, enquadrando-se para este procedimento os tipos IV, V e alguns casos do tipo III, sendo que, nestes últimos, a cicatriz resultante poderá apresentar um componente vertical em forma de “T” invertido. Dezoito pacientes (60%) de nosso estudo foram submetidas a este procedimento.
Abdominoplastia Associada a Lipoaspiração(6-8,10,28,30,33,38,45,46)
A associação desta técnica à lipoaspiração torna-se cada vez mais comum, sendo indicada sobretudo para tratar a região dos flancos e quadris, áreas antes localizadas fora do alcance do cirurgião durante uma cirurgia plástica abdominal. Seis pacientes (20%) foram submetidas à associação desses procedimentos.
Em nenhum caso foi realizada lipoaspiração na área descolada do retalho abdominal, devido ao aumento da morbidade que este procedimento pode trazer, como lipolise ou necrose secundária ao comprometimento da vascularização na área tratada.
Abdominoplastia Atípica(6,19,30,32,36,44,47)
Foi indicada em pacientes que apresentavam cicatriz mediana supra e infra-umbilical, lipodistrofia acentuada, flacidez cutânea e hérnia incisional. Duas pacientes (6,7%) foram submetidas a este procedimento, tendo sido utilizado material aloplástico (tela de Marlex® – polipropileno) para reforço músculo-aponeurótico, resultando em cicatriz mediana vertical xifopubiana transumbilical, combinada com cicatriz horizontal arqueada localizada ao nível da linha de Dumm e de concavidade superior.
Não fosse a imprevisibilidade do resultado estético da cicatriz mediana vertical, esta seria talvez a melhor maneira de se obter um adelgaçamento eficaz da “cintura”, com aprimoramento da visão ântero-posterior da silhueta (a plicatura dos músculos retos abdominais é eficaz, sobretudo para o aprimoramento da visão de perfil, corrigindo a protrusão da parede abdominal).
CONCLUSÕES
Com o presente trabalho, procurou-se atingir alguns propósitos:
- Determinou-se o perfil de nossos pacientes baseados nos dados prevalentes de metodização semiológica, e encontramos: sexo feminino na 5a década da vida, brevilínea, que acusou a gravidez como principal causa da alteração da parede abdominal, apresentando esta a forma globosa, com diástase do músculo reto e retalho mesoepigástrico suficiente.
- Estabeleceu-se a importância da sistematização da semiologia da parede abdominal, na identificação de sua integridade ou alterações.
- Procurou-se adotar uma conduta padronizada e sistematizada, tornando fácil, rápida e eficaz a avaliação semiológica da parede abdominal.
- Definiu-se a valorização dos achados semiológicos na interpretação da Classificação de Pitanguy para os tipos de abdome e das abdominoplastias.
- Verificou-se que a abdominoplastia pela Técnica de Pitanguy foi o procedimento mais utilizado em nossos pacientes, tendo um amplo espectro de indicações com alto índice de bons resultados cirúrgicos.
- Notou-se a redução na incidência de miniabdominoplastias devido à inversão da relação risco-benefício, com nítida preferência às abdominoplastias pela Técnica de Pitanguy.
- Observou-se o aumento da indicação da lipoaspiração durante a abdominoplastia clássica, indicada sobretudo para tratar a região dos flancos e quadris, aprimorando o resultado.
- Procurou-se diminuir a morbidade, tempo cirúrgico e complicações, graças a uma programação cirúrgica mais objetiva e segura.
- Reforçou-se o conceito de que é imprescindível um exame clínico completo, rigoroso e meticuloso, para que o cirurgião possa chegar a conclusões diagnósticas que permitam estabelecer tratamentos cirúrgicos corretos, com redução significativa de erros e equívocos.
- Procurou-se, enfim, possibilitar ao cirurgião uma visão prospectiva, antecipando os seus resultados cirúrgicos com base numa análise precisa e direta, buscando a harmonia entre o abdome, tórax, quadris e púbis, evitando de todas as maneiras possíveis os resultados desgraciosos e antinaturais.Bibliografia
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Agachamento e prevenção da dor lombar – Ajuda ou não?
Já vários estudos científicos comprovaram que o agachamento é um exercício que permite uma ótima ativação dos músculos do core (como por exemplo, o multífidos e o transverso do abdómen), até mais do que os próprios exercícios tradicionais para treino abdominal (Martuscello, 2013).
Desta forma, e com o simultâneo reforço muscular que se consegue do grande glúteo, importante músculo retroversor da bacia (entre outras ações), poder-se-á afirmar que o agachamento será um exercício com um efeito benéfico e preventivo da dor lombar.
Um estudo, realizado por Raske e Norlin (2002) comprovou este facto ao realizarem um estudo no qual participaram mais de cem halterofilistas com utilização semanal do agachamento no treino. Entre 1995 e 2000 o total e as taxas de lesão sofridas foram registados. O total de lesões registado não ultrapassou os 2,6 por 1000 horas de treino e a lesão na região lombar 0,43 / 1000h de treino. Por exemplo, comparando com corredores, num estudo de Van Mechelen (1992) as taxas de lesão chegavam perto de 12,1 a cada 1000h de treinamento, dependendo do tipo de prova.
Resumindo, o agachamento potencia a ativação dos músculos do core e dos glúteos, prevenindo, em muitos casos, o aparecimento da dor lombar.
P.S. – Obviamente dever-se-á atender à individualidade de cada sujeito, e estamos a considerar os efeitos benéficos do exercício do agachamento quando realizado de forma tecnicamente correta.
Fonte: Rodrigo Ruivo, Sports Life.
Envelhecimento Saudável e Ativo
O Joint Research Centre (JRC), publicou um relatório onde destacou a importância da dieta e nutrição no aumento de anos de vida saudável e promoveu o Envelhecimento Saudável e Ativo (a que vamos referir-nos neste artigo como ESA). O relatório descreve os fatores principais do ESA, foca-se na subnutrição na terceira idade como ambas causa e consequência do declínio funcional e sublinha os principais erros das pesquisas.
A população Europeia está a envelhecer – a proporção de pessoas com mais de 65 anos tem um crescimento estimado de 18,4% para perto de 30% em meados de 2060. O número de pessoas com 80 ou mais anos triplicará durante o mesmo período.
Promover o ESA é crítico, para melhorar a qualidade de vida dos mais velhos, garantindo que os indivíduos continuam a contribuir para a sociedade até mais tarde.
Neste contexto, ‘saudável’ refere-se ao bem-estar físico, mental e social e “ativo” é a participação nas atividades cívicas, culturais, económicas, fisicamente ativas, sociais e espirituais.
Fatores determinantes para o envelhecimento saudável e ativo
Através de um exame crítico à contribuição da dieta e nutrição para o ESA e a sua importância no processo de envelhecimento foram identificados alguns fatores determinantes do Envelhecimento ativo e saudável, nomeadamente fatores económicos, sociais e comportamentais.
Os fatores económicos incluem a proteção laboral e social, com as pessoas de baixos rendimentos a incorrer em riscos mais elevados de doença e lesões. Isto deve-se ao acesso mais limitado nesta classe económica a comida nutritiva, a um sistema de saúde e a uma habitação confortável. Os serviços sociais e de saúde têm um papel importante no processo de envelhecimento e deviam aplicar esforços reforçados na promoção da saúde e na prevenção de doenças, através de planos de vacinação e programas de controlo regular de malnutrição e debilidade.
Os ambientes físicos e social também influenciam o envelhecimento. Cidades, comunidades e bairros devem adaptar as suas estruturas e serviços, orientando-os para as pessoas mais idosas, com diferentes capacidades e necessidades. A assistência e a interação social podem afetar ainda fortemente a saúde e bem-estar dos mais velhos.
Existem ainda outros fatores comportamentais com um papel crucial no ESA. A adoção de um estilo de vida e comportamentos positivos ao longo da vida é crucial, passando por uma dieta equilibrada até à prática regular de exercício físico, passando por não fumar, não consumir álcool em excesso e fazer uma utilização adequada dos medicamentos, quando necessários.
Subnutrição e declínio funcional
A subnutrição é também ela um grande problema nas idades mais avançadas, Na União Europeia mais de 20 milhões de pessoas correm o risco de se tornarem subnutridas, o que custa aos sistemas de saúde e segurança social cerca de 120 biliões de euros por ano.
As alterações nas capacidades funcionais que surgem com a idade, tanto físicas como fisiológicas (em particular neurológicas) podem ter impacto na ingestão de comida e no nível de subnutrição nas pessoas mais idosas. As limitações nos movimentos devido a problemas tais como a sarcopenia (perda de massa muscular e força), artrite e osteoporose podem afectar a acessibilidade aos alimentos e consequentemente ao consumo de comida adequada. As alterações dos sentidos, nomeadamente paladar e olfato podem diminuir o interesse pela comida e a motivação para comer, enquanto problemas de saúde oral como perda de dentes e falta de produção de saliva podem conduzir a que o indivíduo fuja dos alimentos menos fáceis de mastigar. As doenças cognitivas podem ter impacto na alimentação dos idosos, como nas pessoas com demencia ou a doença de Alzheimer, que se esquecem frequentemente de comer ou beber.
O papel da dieta
O relatório endereça a suplementação com micronutrientes como uma estratégia para superar a subnutrição, apontando que as provas até à data não demonstraram de forma conclusiva um efeito benéfico para a saúde da suplementação com micronutrientes nos idosos. Uma outra abordagem passa por maximizar a ingestão das vitaminas, minerais e compostos bioactivos essenciais de fontes de alimento naturais.
Em particular a dieta geralmente referida como Mediterrânica é sugerida como uma possível aproximação para apoiar o envelhecimento saudável, devido à sua associação com um baixo risco de mortalidade e doenças cardiovasculares. Existe ainda uma teoria crescente que defende que a dieta Mediterrânica diminui o risco do défice cognitivo.
Se esta aproximação a uma dieta completa é viável ou não para as pessoas afectadas por dificuldades fisiológicas ligadas ao envelhecimento, continua por demonstrar.
Finalmente, o relatório sugere potenciais temas para futuras pesquisas, tais como o estudo das relações entre os factores social, económico e factores ambientais com os comportamentos dietéticos. Foram também mencionadas as estratégias mais eficazes para chegar à população mais idosa para promover a saúde e estudar o processo de envelhecimento a partir de uma perspectiva de curso de vida, seguindo pessoas deste a gravidez e nascimento até à terceira idade, a identificação das melhores medidas e indicadores para a ESA. Mais pesquisas nestas áreas vão apoiar a European Innovation Partnership on Active and Healthy Ageing, lançada pela Comissão Europeia em 2012, na sua tentativa de diminuir o espaço entre o aumento da esperança de vida e anos de vida saudáveis.
Fonte: European Commission DG Joint Research Centre (2014). JRC Science and Policy Reports: The Role of Nutrition in Active and Healthy Ageing. For prevention and treatment of age-related diseases: evidence so far. European Union, Luxembourg.
Treino no Parque em 1 minuto
Malhar é o melhor remédio
Não é só um corpo bonito que você ganha quando coloca a ginástica na rotina. Mais do que nunca, manter-se em movimento é a recomendação número um para blindar a saúde contra doenças e viver mais
Quando vocês está com dor nas costas, procura o ortopedista. Quando é aquela enxaqueca que está incomodando, bora para o neurologista investigar o porquê. Se anda ansiosa ou com a autoestima ruim, busca ajuda de um psicólogo. Cada profissional vai dar orientações que a especialidade pede para cada queixa, mas uma coisa é praticamente certa: todos vão querer saber como é a sua rotina de exercícios e, se ela for zero, recomendar que você adote logo uma atividade física. “O exercício é o remédio de mais ampla indicação que existe”, fala o fisiologista Turíbio Leite de Barros, diretor do Physio Institute, em São Paulo. “O que a medicina defende hoje é que não há nenhuma doença, seja de natureza física ou emocional (como depressão e transtornos de ansiedade), que não tenha a atividade física pelo menos como coadjuvante no tratamento.” Tanto é assim que, desde 2010, o American College of Sports Medicine, a maior e mais importante organização sobre medicina esportiva e atividade física, realiza anualmente o congresso Exercise Is Medicine (Exercício É Remédio) a fim de discutir as possibilidades, cada vez maiores, de usar a malhação para prevenir, controlar e tratar doenças.
Turbine sua máquina
Pense em um carro que fica muito tempo sem rodar. Quando você tenta dar a partida, é difícil fazê-lo pagar, pois a falta de uso deteriora as peças e compromete o funcionamento da máquina. Com o corpo, é a mesma coisa: se ficar parado, os órgãos vão deixando de trabalhar como deveriam, o sangue não circula bem e as doenças vão aparecendo. É por isso que o sedentarismo, há tempo um assunto de saúde pública, hoje é visto como o grande mal do século 21. No levantamento mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em 2012, está em quarto lugar entre os fatores de risco para doenças que matam (depois de pressão alta, tabagismo e diabetes). Do ranking das principais causas de morte no mundo, sete poderiam ser evitadas com o exercício regular. Tem mais: a inatividade está ligada a outros fantasmas atuais, como obesidade, stress, depressão e ansiedade, campeões de venda de remédios no mundo.
A boa notícia: para deixar de ser sedentário, você não precisa gastar um tempão na academia. Trinta minutos de atividade todos os dias já contam – e olhe que vale qualquer coisa que o tire do sofá ou da cadeira do escritório por algum tempo e coloque o corpo em movimento, como subir escada, fazer as tarefas de casa e passear com o cachorro (isso é o mínimo e, é claro, você pode extrapolar essa meta). Somando tudo, o resultado é uma vida mais saudável. Mesmo assim, cerca de 70% da população mundial é inativa, conforme os números da OMS. No Brasil, em um levantamento de 2012 do Ministério da Saúde, 27% das pessoas disseram assistir a três ou mais horas de televisão por dia, um comportamento sedentário que eleva o risco de obesidade, diabetes e doenças do coração. Quer outros motivos para convencer-se de que uma vida ativa é o melhor caminho para viver mais e melhor? Aqui estão eles.
Coração bombando
As doenças cardiovasculares provocam quase 50% das mortes registadas anualmente nos Estados Unidos, segundo dados do American College of Sports Medicine. E boa parte delas poderia ser evitada se os norte-americanos não estivessem entre os mais sedentários e obesos do planeta.
O coração é como o motor do corpo, do qual dependem todos os outros sistemas. E, assim como todo o músculo, o cardíaco também fica mais forte e saudável quando é submetido à malhação. Durante o exercício, acontece uma espécie de faxina nas artérias: o colesterol ruim vai embora, o bom aumenta e os vasos ficam mais flexíveis, o que facilita a circulação do sangue e reduz a pressão arterial – vários estudos já mostraram que os sedentários têm até 50% mais risco de apresentar pressão alta do que quem se exercita regularmente. Por isso é que a atividade física tem efeito comprovado na prevenção e no tratamento de doenças do coração assim como na reabilitação pós-panes cardíacas, como infarto. Outro vilão poderoso de problemas cardiovasculares (de sobrepeso e de outras doenças também), o stress fica pequenininho quando você coloca a ginástica na rotina. Isso porque a prática, qualquer que seja, libera endorfinas e serotonima, substâncias que relaxam e aumentam a sensação de bem-estar.
Sem chance para o câncer
No Brasil, essa é a segunda doença que mais mata (atrás apenas das cardíacas) e, pelas estimativas do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), pode se tornar a primeira até 2030 se não mudarmos agora nossos hábitos. Isso porque grande parte dos casos de câncer está ligada ao estilo de vida, com alimentação ruim, obesidade e sedentarismo no topo da lista de fatores de risco para desenvolvê-lo. Mas a instituição também avisa: com atividade física e controle da dieta e do peso, é possível evitar até 28% dos casos de câncer de mama, o mais prevalente entre as mulheres, e cortar em até 30% os outros tipos mais comuns, como os de pulmão, cólon e fígado. Uma pesquisa da Associação Americana par Pesquisa do Câncer feita com mais de 73 mil mulheres na menopausa revelou risco 25% menor de ter a doença entre as que malhavam em comparação às inativas. Os médicos explicam que o exercício, desde que seja regular, ajuda a controlar o desequilíbrio hormonal, retarda o envelhecimento das células e diminui a gordura corporal, dificultando, assim, o desenvolvimento de células cancerígenas.
Cérebro tinindo
Quer encontra a solução de um problema ou ampliar o repertório de ideias? Saia para uma caminhada. Segundo um estudo da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, recém-publicado no periódico Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory and Cognition, andar, seja ao ar livre, seja na esteira, turbina a criatividade. No trabalho, os cientistas submeteram voluntários a testes de criatividade, que incluíam achar diferentes usos para um mesmo objeto, a serem feitos durante e depois de uma caminhada e enquanto estavam sentados. Os resultados apresentados, tanto com as pessoas em movimento quanto logo após se exercitarem, foram, em média, 60% melhores do que os de quem estava parado. Diversos estudos comprovam o efeito positivo do exercício também sobre outras funções cognitivas. Os especialistas explicam: mexer o corpo e coordenar os movimentos melhora a circulação sanguínea, aumentando a oxigenação no cérebro, estimula a comunicação entre os neurônios e ativa regiões cerebrais responsáveis pela memória, a aprendizagem e o raciocínio, além de estimular a produção de substâncias que ajudam a controlar estados de ansiedade, stress, mau humor e depressão.
Emoções sob controle
O benefício para a mente de praticar atividade física vai além do barato experimentado depois das sessões de treino e da disposição para encarar a rotina – o que não é pouca coisa. É por isso que há bastante tempo se defende a prática de exercícios como parte fundamental no tratamento de males psíquicos, como depressão. No entanto, o estudo de um pesquisador da Universidade de Toronto, no Canadá, publicado em 2013 no periódico American Journal of Preventive Medicine, comprovou a importância de você se manter ativa para preservar a saúde mental e prevenir o surgimento da depressão ainda que haja a predisposição genética para a doença. O cientista analisou 30 trabalhos publicados durante mais de duas décadas relacionando exercícios e depressão e descobriu evidências consistentes de que mesmo sessões curtas de atividade física todo dia, como uma caminhada de até 30 minutos, podem contribuir para afastar o risco de desenvolver depressão no futuro. “Se você já é ativo, não deve parar. Se não, deveria adotar agora o hábito de se exercitar”, fala George Mammem, autor da pesquisa “O impacto positivo do exercício vai muito além do físico”.
Dor de cabeça à distância
Menos analgésicos, mais exercícios. Essa parece ser a melhor receita para boa parte das queixas de cefaleia e enxaqueca, como mostrou um grande estudo brasileiro sobre dor de cabeça feito com pouco mais de 3,8 mil pessoas. O objetivo era estimar a ocorrência de crises de dor e associá-las ao estilo de vida dos voluntários. O resultado: os sedentários relataram ter 43% mais enxaqueca e 100% mais cefaleia crónica (com crises todo o dia) do que quem disse malhar de três a sete vezes por semana. “O exercício aumenta a produção de endorfinas, que agem nos centros reguladores da dor e funcionam como um analgésico natural”, explica o neurologista Luiz Paulo de Queiroz, da Universidade Federal de Santa Catarina, um dos autores do estudo. Malhar também diminui o stress e a tensão muscular, dois gatilhos da dor de cabeça.
O fim do atchim
Quem malha fica menos resfriado do que quem fica parado. Isso ficou comprovado em um estudo do American College of Sports Medicine com dois grupos de mulheres: enquanto um fez caminhadas moderadas de 35 a 45 minutos cinco dias por semana por até 15 semanas, o outro passou esse período sem se exercitar. No fim do trabalho, as sedentárias relataram duas vezes mais sintomas de resfriado do que as ativas. Outra pesquisa, também divulgada pela instituição norte-americana de medicina esportiva, revelou que 61% de 700 corredores entrevistados passaram a ter menos resfriados desde que adotaram o exporte. Atividade aeróbicas, como corrida, caminhada, ciclismo e natação, feitas em intensidade moderada, fortalecem as defesas do organismo e melhoram a função pulmonar, aumentando a capacidade de combater infeções das vias respiratórias, como grive e resfriado.
Ossos duros na queda
Pelo menos 80% da população mundial vai ter algum episódio de dor nas costas na vida, revelou uma pesquisa da OMS. “A maior parte desses incômodos se deve ao estilo de vida sedentário e à postura errada na hora de trabalhar, dirigir, dormir e sentar para ver televisão e pode ser evitada com um trabalho de fortalecimento da musculatura abdominal e das costas, que dão sustentação à coluna”, afirma o ortopedista Alexandre Fogaça Cristante, da Sociedade Brasileira da Coluna (SBC). Outro mal que acomete a coluna e o resto do nosso esqueleto e tem relação direta com a falta de atividade física é a osteoporose. A perda de resistência dos ossos afeta 10 milhões de pessoas no Brasil (cerca de um em casa 17), de acordo com a Fundação Internacional de Osteoporose, a maioria mulheres perto dos 50 anos. Mesmo se você está longe de chegar lá, saiba que é prevenindo que dá para fugir das estatísticas. “Fazer exercício, de preferência com carga e impacto, como musculação e corrida, é uma perda do tripé de prevenção da osteoporose, junto com a alimentação rica em cálcio e a exposição ao sol, para favorecer a produção de vitamina D”, explica Alexandre Fogaça.
Então, pronto para aderir ao melhor remédio?
Fonte: Revista Boa Forma (Brasil)
Treino no Parque em 1 minuto
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Sabia que…
O corpo humano é pré-concebido para fazer uma série de actividades com o consumo moderado de calorias. Então, muitas vezes não nos damos conta que para queimar 100 calorias, é obrigado a gastar 79 minutos sentados, 19 de pé ou 5 consecutivo. Imagine a quantidade de atividade necessária para queima um hambúrguer gorduroso!!!
Os beneficios de ter uma musculatura abdominal fortalecida
1. INTRODUÇÃO
Esse projeto foi elaborado com fim de orientar os benefícios de ter uma musculatura abdominal fortalecida, que pode vir como resultados uma boa postura, prevenção contra traumatismos na coluna, evitar hérnias além da questão da estética que está acima de tudo para a maioria da população nos últimos anos. Não ter um abdome fortalecido pode haver ocorrências de desvios posturais, em caso de lesão na coluna a recuperação se torna quase impossível.
Uma musculatura abdominal enfraquecida deverá acarretar uma serie de malefícios ao corpo humano, como vários além de sérios desvios posturais afetando vários sistemas como o digestivo, respiratório, neural e até estruturas ósseas, levando assim a ocorrências de inúmeras patologias. Um dos principais fatores determinantes que levam a pessoas a não fortalecerem a região abdominal é o sedentarismo, a falta de informação e instrução além da falta de disponibilidade de algumas pessoas.
1.1. Objetivo geral
Queremos promover por meio deste trabalho cientifico, informações essencialmente importantes para as praticas de exercícios físicos especificamente voltados para deixar o abdome rígido e tonificado, garantindo que haja um desempenho perfeito na pratica de cada atividade física, para que não aconteça nenhum tipo de malefício físico durante a execução da atividade. Também viemos por meio deste trabalho propiciar assim um abdome rígido e tonificado, trazendo a saúde exemplar, demonstrando a importância de um músculo abdominal saudável e bem trabalhado.
1.1.1. Objetivo especifico
- Informar os benefícios de ter um abdome fortalecido.
- Informar que exercícios abdominais mal executados podem acarretar em malefícios a nossa coluna vertebral.
- Mostrar quais músculos temos em nossa região abdominal
2. QUADRO TEÓRICO
2.1. Músculos abdominais
Os músculos abdominais são aqueles que formam a parede abdominal, tem como principal função sustentar e manter o equilíbrio e a postura corporal e são divididos em dois grupos musculares, os laminares e os longos. Os músculos laminares são compostos pelos oblíquos interno e externo, transverso e o músculo reto abdominal e o piramidal são músculos longos.
2.1.1. Músculo oblíquo externo
O oblíquo externo é o mais forte dos músculos abdominais além de ser o mais aparente, cobrindo as laterais do abdome. Esse músculo tem forma de um quadrilátero, irregular que se origina no rebordo costal das oitavas costelas, projetando-se para frente e para baixo se inserindo nas porções anteriores da crista ilíaca e dos músculos reto-abdominais na linha mediana.
2.1.2. Músculo oblíquo interno
O músculo oblíquo interno,tem forma triangular e menor e mais fino que o externo pelo qual cobre o mesmo, suas fibras são direcionadas em sentido contrário as fibras do músculo oblíquo externo. Tem origem no ligamento inguinal e internamente a crista ilíaca.
2.1.3. Músculo reto do abdômen
O músculo reto abdominal é longo e fino. Esse músculo percorre a parede do abdómen na vertical dois lados, está dividido paralelamente e são cortados por uma linha branca chamada de aponeuroses. Esse músculo tem origem na região do púbis e se insere nas cartilagens da quinta, sexta e sétima costela. O músculo reto abdominal tem como função manter a postura corporal e além de ajudar na respiração.
2.1.4. Músculo transverso do abdome
O músculo transverso abdominal é fino e triangular com suas fibras estão direcionadas na horizontal através da parede abdominal. Está localizado sobre o oblíquo interno e sob a sua fáscia transversal. Este músculo tem origem no ligamento inguinal, porção interna do íleo, fáscia lombar e porção interna das cartilagens das últimas seis costelas. Sua inserção está dentro da linha Alba, atrás do reto abdominal.
2.2. Funções dos músculos abdominais para o corpo
As principais funções dos músculos abdominais para o corpo são equilíbrio postural, sustentação postural, eficiência respiratória, eficiência do processo digestivo, prevenção contra traumatismo, prevenção contra diástases, proteção às áreas abdominais sujeitas a formações de hérnias além de melhorar esteticamente.
2.3. Trabalho muscular nos músculos
2.3.1. Hipertrofia
A hipertrofia de um modo geral é o aumento do volume de um órgão ou tecido devido ao alargamento de seus componentes celulares. A hipertrofia reage a trabalhos musculares de forma que a musculatura fique bem mais visível e rígida. Dependendo do exercício físico e do tipo de treinamento realizado, pode haver dois tipos de hipertrofia sendo uma através do aumento do volume sarcoplasmático ou a aumento de proteínas contráteis.
3. A FORÇA MUSCULAR
3.1. Força muscular: Conceitos
Existem vários conceitos sobre força muscular, uma delas é que a força é a capacidade de exercer tensão muscular contra uma resistência, superando, sustentando ou cedendo à mesma. (Guedes, 1997)
Força muscular como a capacidade de exercer tensão muscular contra uma resistência, envolvendo fatores mecânicos e fisiológicos que determinam a força em algum movimento a ser executado. (Barbatini, 1979).
Entre esses conceitos de força a um autor que define força de acordo com suas manifestações em força máxima, força explosiva e força de resistência. (Weineck, 1999)
3.2. Tipos de força muscular
3.2.1. Força máxima
A força máxima pode ser estática ou dinâmica. Força estática é sempre menor do que a dinâmica, pois, na dinâmica, a força muscular empregada é maior do que a resistência, pois, se não fosse assim, não haveria movimento. Na estática a força se iguala a resistência. (Guimarães, Waldemar, 1999)
A força máxima é a maior força que o sistema neuromuscular pode mobilizar através de uma contração muscular máxima voluntaria ocorrendo ou não movimento articular. (Weineck, 1999)
3.2.2. Força explosiva
A força explosiva como a força produzida na unidade de tempo. (Zatsiorsky, 1999)
3.2.3. Força de resistência
A força de resistência é a capacidade do sistema neuromuscular, sustentar níveis de força moderado por intervalos de tempo prolongado. (Weineck, 1999; Guedes, 2003)
4. METODOLOGIA
4.1. Tipo de estudo
Este trabalho científico com tema a influência do fortalecimento e enrijecimento dos músculos do abdome por meio de pesquisa bibliográfica e por métodos qualitativos.
4.2. Período realizado da pesquisa
Essa pesquisa teve início no dia trinta e um de março e o período de pesquisa teve por fim no dia 26 de abril do ano de 2010.
4.3. Procedimento do estudo
Esse trabalho cientifico foi embasado através de pesquisas sobre força muscular, músculos da parede abdominal a importância de um abdome enrijecido.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que o fortalecimento e enrijecimento dos músculos abdominais são essenciais para uma boa forma, ajuda a manter o equilíbrio corporal evitando várias complicações de saúde como as hérnias de disco, os desvios posturais, complicações no sistema circulatório e respiratório. Concordamos que exercícios abdominais mal executados podem criar ou agravar certas patologias.
Fonte: http://m.dadedfisica.webnode.com.br/news/os-beneficios-de-ter-uma-musculatura-abdominal-fortalecida-/
INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DE FORÇA NA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS
Resumo
Torna-se cada vez maior o número de pessoas com idade superior a 55 anos, aumentando com isso o número de idosos no planeta. Esse fato faz emergir uma preocupação com a qualidade de vida desses cidadãos, que têm o sedentarismo como uma característica frequente em seus estilos de vida. A força é um importante fator para as capacidades funcionais, e sua redução com o avanço da idade pode comprometer a realização de atividades comuns à vida diária. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi realizar revisão de literatura sobre o treinamento de força na terceira idade, enfocando as adaptações fisiológicas e suas implicações na qualidade de vida do indivíduo. Torna-se relevante tal estudo, uma vez que necessitamos discutir sobre a realidade do idoso no que se refere à atividade física, além de um maior comprometimento dos profissionais da área de saúde com o estudo sobre a terceira idade. As diretrizes que nortearam este estudo foram conseguidas através da reunião de inúmeras pesquisas a respeito do treinamento de força em idades avançadas, que constataram, entre outros benefícios à saúde do idoso, ganhos significativos de força em até mesmo indivíduos com idades superiores a 90 anos, buscando proporcionar melhor qualidade de vida e longevidade aos idosos.
Introdução
No mundo globalizado, a evolução tecnológica, as melhores condições de trabalho e o lazer têm trazido benefícios à população em geral, refletindo numa maior expectativa de vida e aumentando com isso o número de idosos no planeta. Estima-se que, por volta do ano 2020, cerca de 20% da população americana terá mais de 65 anos de idade e aproximadamente 1,3 milhão de pessoas terão 100 anos ou mais por volta do ano 2040. Esse processo de “envelhecimento da população” faz emergir uma preocupação com a qualidade de vida desses cidadãos, visto que o sedentarismo é uma característica frequente em seus estilos de vida. A adoção de um estilo de vida ativo, expresso pela prática regular de exercícios físicos, poderia reduzir significativamente o número de mortes causadas por doenças oriundas da insuficiência de atividade física, como cardiopatia, câncer de cólon e diabetes, além das mortes causadas por quedas, comuns entre idosos (McARDLE, 1998). A força é um fator importante para as capacidades funcionais, e sua redução com o avanço da idade pode comprometer a realização de atividades comuns à vida diária, como as tarefas domésticas, levantar de uma cadeira, varrer o chão, ou até mesmo amarrar o cadarço do tênis, o que refletiria também, de forma negativa, nas relações sociais do indivíduo, podendo culminar até mesmo em isolamentos em asilos. Recentes averiguações acerca dos possíveis benefícios de um programa de treinamento de força aos idosos têm gerado atenção da comunidade científica. FIATARONE et al. (1990) e KATCH e McARDLE (1996) demonstraram que indivíduos com idade acima de 90 anos podem conseguir ganhos de força através de treinamento de força, como também em inúmeros aspetos relacionados à capacidade funcional (por exemplo, aumento da mobilidade geral), podendo melhorar a qualidade de vida até mesmo de indivíduos com idades muito avançadas.
Torna-se, portanto, importante minimizar as perdas de força conforme envelhecemos, porque ela é vital à saúde, à capacidade funcional e à vida independente.
Objetivo
O objetivo deste estudo foi de realizar revisão de literatura sobre o treinamento de força na terceira idade, atentando para os processos de perda de força e massa muscular relacionados ao avanço da idade, aos efeitos e às adaptações fisiológicas advindos desse tipo de treinamento, bem como às implicações refletidas na qualidade de vida dessa importante parcela da população.
Justificativa
Numa sociedade caracterizada pela desvalorização e discriminação do idoso, releva-se a realização deste estudo, pela urgente necessidade de discussão sobre a realidade do idoso no que se refere à atividade física, no Brasil.
Outro fato notório é o reduzido número de publicações e pesquisas a esse respeito no contexto da Educação Física, o que demonstra pequeno comprometimento dos profissionais engajados nessa área com estudos a respeito da terceira-idade.
Revisão de literatura
No mundo de Parmênides, ou de ser, encontram-se os velhos, os que vivem em “estado de velhice”. No de Heráclito, ou de vir-a-ser, tudo está em movimento, onde envelhecer nada mais é do que um simples processo que expressa marcha, progresso, sucessão e desenvolvimento (Heráclito de Efésio, 504 a.C., citado por GHORAYB e BARROS, 1999).
Força e musculação
Conforme BITTENCOURT (1986) e SANTARÉM (1999), a força e a resistência muscular têm, na musculação, seu principal desenvolvimento. Esse fato deve-se, principalmente, à proliferação das miofibrilas e ao aprimoramento de unidades motoras para contração simultânea. HÄKKINEM e KOMI (1985) ainda demonstraram que o treinamento de força cria desenvolvimentos específicos na ativação muscular e nas proporções do desenvolvimento de força, o que torna esse tipo de treinamento o mais indicado para a melhoria da capacidade contrátil. Características gerais da idade avançada relacionadas à força Estudos transversais demonstraram que a partir da sexta década de vida ocorre diminuição drástica nos níveis de força muscular, tanto em homens (H) quanto em mulheres (M). Segundo BASSEY e HARRIES (1993), indivíduos idosos apresentam perda de 2% da força do aperto de mão a cada ano, percentual que é elevado para 3% em H e 5% em M quando observado durante um período de quatro anos. SHARKEY (1998) afirmou que os níveis de força tendem a se reduzir lentamente até aproximadamente os 50 anos de idade e que a partir desta idade o declínio começa a aumentar mais rapidamente. KATCH e McARDLE (1996) destacaram a redução da massa muscular, que ocorre com a perda das proteínas e do número de fibras contráteis, como o principal responsável pela diminuição da força, associada à idade avançada. Conforme GHORAYB e BARROS (1999), limitações fisiológicas, agravadas com o sedentarismo prolongado, levam a reduções acentuadas e progressivas da massa muscular, da força, da flexibilidade e do equilíbrio, de maneira que as pessoas nas faixas etárias mais elevadas evoluam rapidamente para a inaptidão total. Declínios nas funções fisiológicas desses indivíduos geram grande preocupação com o estado de saúde do idoso, bem como sua autonomia em relação à prática de atividades comuns ao cotidiano. Segundo WOLINSKY e FITZGERALD (1994), um grande problema de saúde pública são as lesões causadas por quedas de idosos, que são agravadas pelo sedentarismo. BASSEY et al. (1992) observaram significativa correlação entre as potências dos extensores de perna e a velocidade de se levantar da cadeira, subir escadas e caminhar, o que, conforme FLECK e KRAEMER (1999), indica que o aumento na potência muscular parece ser um objetivo principal do treinamento em pessoas mais velhas. Segundo o American College of Sports Medicine – ACSM (1995), entre os 55 e 80 anos de idade ocorre grande perda de massa óssea e muscular, atingindo redução óssea de 10 a 20% nos homens e de 20 a 30% nas mulheres, o que, conforme McARDLE et al. (1998), representa o resultado de processos neuro motores progressivos e de queda no nível diário de sobrecarga muscular. Outra característica dos indivíduos com idade avançada são as alterações ocorridas nas cartilagens articulares, que causam aumento progressivo na incidência de osteoartrite, além dos processos de desmineralização óssea, que torna a pessoa vulnerável a fraturas de ossos longos, pélvis e quadris. De acordo com o ACSM (1995), um estudo constatou, por meio de radiografias da coluna vertebral, que dos 50 aos 60 anos de idade os indivíduos apresentaram lesões características em 70 a 80% dos casos analisados. Pesquisas como essas, cujos resultados quantificaram, principalmente, os processos de perda óssea e muscular em indivíduos com idades avançadas, geram grande preocupação no que se refere às possibilidades de retardarmos o declínio nas funções fisiológicas do indivíduo através de hábitos saudáveis, como o treinamento de força. Efeitos e adaptações fisiológicos do treinamento de força na terceira idade Inúmeros estudos relacionados ao treinamento de força têm examinado adaptações de curto prazo no idoso, apontando a preservação da capacidade de aumentar os níveis de força. Conforme SHARKEY (1998), o treinamento com pesos em qualquer idade mantém ou melhora a força muscular. MORITANI e DEVRIES (1980), com base em um programa de treinamento de alta intensidade, em homens mais velhos, concluíram que a capacidade dos idosos de aumentar a força está preservada, fato corroborado por FIATARONE et al. (1990) num estudo com homens com idades entre 87 e 96 anos. Um outro estudo envolvendo idosos submeteu um grupo de homens sadios, com idades entre 60 e 72 anos, a um programa de treinamento de força durante 12 semanas. Verificou-se que a cada sessão de treinamento a força muscular aumentara progressivamente em cerca de 5%, resposta semelhante a que se obtinha em adultos jovens. Além dos aumentos significativos de força, foi constatado também aumento no volume muscular (hipertrofia) (KATCH e
McARDLE, 1996). FRONTERA et al. (1988) também constataram ganhos de força de até 200% em uma repetição máxima (1 RM), tanto em homens quanto em mulheres mais velhos (idades entre 60 e 72 anos), submetidos a treinamento de força de alta intensidade (3 séries, 8 repetições, 80% de (1 RM), 3 dias por semana, durante 12 semanas). Tais estudos procuraram direcionar suas pesquisas às alterações nos níveis de força em curto espaço de treinamento. Em contrapartida, poucas pesquisas estudaram essas alterações durante longos períodos de tempo. MORIGANTI et al. (1995) examinaram um programa de treinamento progressivo de força com mulheres saudáveis, com média de 59 anos de idade, constituído de exercícios para a parte superior do corpo, executados em 3 séries de 8 repetições, a 80% de (1 RM), duas vezes por semana, durante 12 meses. Esse estudo demonstrou que a força continuou a aumentar, sem nenhuma evidência de estabilização durante os 12 meses. McARDLE et al. (1998) reportaram, por meio de análise realizada em um grupo de indivíduos com 70 anos de idade, submetidos a treinamento de força desde os 50 anos, que a área transversal e a força muscular eram semelhantes a um grupo de estudantes de 28 anos. FLECK e KRAEMER (1999), norteados por uma extensa revisão bibliográfica, afirmaram que o aumento dos músculos em indivíduos treinados em força tem sido atribuído à hipertrofia das fibras musculares
já existentes. Grimby & Saltin (1983), citados por POLLOCK e WILMORE (1993), também concluíram, através de revisão, que as fibras musculares dos tipos I e II podem continuar a aumentar seu volume através do treinamento de força em homens com idades entre 60 e 70 anos. Panton et al. (1988), também citados por POLLOCK e WILMORE (1993), ainda ressaltaram que até mesmo indivíduos com idades entre 70 e 80 anos apresentam hipertrofia muscular, fato corroborado pelo aumento significativo na circunferência do bíceps em (H) e (M) compreendidos nesta faixa etária, submetidos ao treinamento de força. NELSON et al. (1994), utilizando amostra de (M) semelhante à de MORIGANTI et al. (1995), evidenciaram a influência significativa desse tipo de treinamento na saúde do osso, por meio de aumento de densidade femoral e coluna lombar, após um ano de treinamento, além do aperfeiçoamento do equilíbrio, do nível total de atividade física, bem como da massa muscular. Indivíduos treinados em força chegam a apresentar densidade óssea cerca de 40% maior de que controles sedentários de mesma faixa etária.
KATCH e McARDLE (1996), com base em experimentos, afirmaram que tanto homens quanto mulheres podem manter a saúde dos ossos por toda a vida através da prática regular de exercícios físicos. Pôde-se constatar, portanto, em diferentes averiguações no decorrer do desenvolvimento científico, a significativa influência do treinamento de força em estruturas fisiológicas, como o sistema muscular e ósseo de idosos. Na tabela a seguir encontram-se algumas adaptações do treinamento de força em indivíduos mais velhos, relatadas por FLECK e KRAEMER (1999), após realizarem extensa revisão bibliográfica.
Tabela 1 – Adaptações de treinamento de exercícios básicos de força para adultos mais velhos (60 anos ou mais)
Variável Experimental |
Resposta |
Força muscular | Aumentada |
Tamanho da fibra muscular | Aumentado |
Pico de torque isocinético (60º ou mais) | Aumentado |
Tamanho da seção da área transversal do músculo da coxa | Aumentado |
Densidade mineral localizada do osso | Aumentada |
Percentual de gordura | Reduzido |
Execução das tarefas diárias | Melhorada |
Força das costas | Aumentada |
Pico de consumo de oxigênio | Aumentado |
Fatores psicológicos | Efeitos positivos |
Fonte: modificado de FLECK e KRAEMER, 1999
Treinamento de força e qualidade de vida na terceira idade
Tendo em vista que o treinamento de força estimula o aumento da densidade óssea e muscular, bem como a proliferação do tecido conjuntivo elástico nos músculos, tendões, ligamentos e cápsula articular, pode-se esperar que o resultado prático das alterações ocorridas através da prática do treinamento de força na terceira idade seja um complexo mio esquelético mais forte e mais resistente a lesões, o que melhoraria os esforços comuns à vida diária, refletindo numa qualidade de vida mais saudável e, consequentemente, no prolongamento da vida do indivíduo. Estudos longitudinais constataram aumento na expectativa de vida, de pelo menos dois anos, entre aqueles indivíduos que mantinham uma atividade física habitual (KATCH e McARDLE, 1996; SHARKEY, 1998). Pesquisadores da Califórnia (Estados Unidos) compararam os benefícios de diversos tipos de atividades físicas, como caminhada, natação, desportos vigorosos, jardinagem etc., na saúde do idoso, demonstrando que a melhor saúde foi associada aos desportos vigorosos, o que sugere a inclusão do treinamento de força entre tais atividades (SHARKEY, 1998). Dentre os inúmeros benefícios à saúde, o treinamento de força é uma boa forma de evitar a osteoporose (SANTARÉM, 1999; SHARKEY, 1998), além de ser uma atividade segura:
- Os pesos em aparelhos podem ser adequados sem dificuldades aos níveis de força das pessoas e podem induzir esforço menor do que suportar o peso do próprio corpo ao caminhar.
- A amplitude dos movimentos pode ser facilmente adequada às limitações articulares apresentadas.
- Os movimentos são lentos e cadenciados, sem mudanças de velocidade ou direção, sem risco de quedas ou de traumas diretos.
- A intensidade elevada é dada pelo aumento da resistência aos movimentos e não pelo aumento da velocidade, o que evita vários fatores de lesão.
- Os pesos ou outras formas de resistência aos movimentos constituem sobrecargas de treinamento com ampla margem de segurança, apenas apresentando efeitos lesivos quando excessivos e impeditivos dos movimentos bio mecanicamente corretos, o que seria facilmente identificado em treinamento.
Além de serem seguros, de fácil acesso e proporcionar inúmeras adaptações fisiológicas que auxiliem na melhoria na qualidade de vida dos idosos, os exercícios devem ser agradáveis, sem desconforto articular ou respiratório, devendo ser propiciada também a interação interpessoal, o que, conforme FLECK e KRAEMER (1999), são requisitos atendidos pelo treinamento de força, tornando-o um elemento de motivação externa, perfeitamente funcional e adequado às necessidades individuais.
Torna-se importante ressaltar que tanto em jovens quanto em adultos mais velhos o treinamento de força deve fazer parte de um estilo de vida que desenvolva o condicionamento físico em caráter permanente.
Conclusão
A relevância do treinamento de força para indivíduos com idades avançadas pôde ser corroborada através de inúmeras pesquisas que, nos últimos anos, contribuíram para que muitos questionamentos a respeito desse assunto fossem esclarecidos. Assim, o treinamento de força pode ser um importante fator na melhoria da qualidade de vida dos idosos, desde que os princípios científicos e de bom senso sejam considerados durante todo o processo de treinamento. “Aos 60 anos de idade, portanto, é possível ter a saúde e capacidades de desempenho de uma pessoa média de 30 anos de idade. Esse fato tem considerável relevância, pois indivíduos que optam por não envelhecer rapidamente podem reduzir a morbidez e estender os anos vigorosos, vivendo uma vida ativa e saudável” (SHARKEY, 1998). Deve-se atentar, contudo, para o fato de que a importância da prática de qualquer atividade física deveria seguir uma frequência longitudinal no cotidiano do indivíduo, sendo realizada ao longo de todo o seu desenvolvimento, desde a juventude, para que a gama de benefícios advindos de sua prática seja ainda mais otimizada, o que refletiria em uma vida muito mais saudável, independente e duradoura.
Fonte: http://www.revistamineiradeefi.ufv.br/artigos/arquivos/b388f9a1fafe4ee95127b9b982c2535e.pdf